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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A INTERFERÊNCIA DA ESCOLA NA INFÂNCIA

Por Cris Akemi, Maria Vergínia Alves Fragoso,   Rosangela Silva e Vanessa Novi


DISCIPLINA E CONTROLE


            As idéias iluministas embasadas na liberdade estruturada na ciência e não mais na religião, consolidaram a sociedade capitalista no século XVIII; e ao desenvolver um grande número de instituições de assistência e proteção aos cidadãos no intuito administrativo, em um modelo de construção que possibilitou identificar a origem das pessoas, as doenças, as necessidades; criou também uma forma velada de implantar mecanismos de controle.
            Com a invenção do relógio, o tempo passa a ter uma importância que altera o cotidiano do indivíduo, possibilitando o controle do espaço e do tempo pelo Estado.
            Segundo Foucalt (1975, p. 117), que analisou a disciplina historicamente, em seus aspectos físicos e psicológicos, existe uma grande relevância, do ponto de vista social, nas relações de poder, estabelecidas nos espaços fechados.
            A princípio houve a necessidade de construir prédios com estruturas divididas em salas, com acessos dispostos conforme a necessidade da instituição: hospitais, igrejas, escolas; todas muito parecidas. Nesses ambientes, até hoje, existem uma infinidade de normas, regras e controles disciplinares, que compreendem no processo coercitivo do indivíduo. Essa disciplina é imposta aos soldados, nos quartéis, e aos alunos nas escolas, de maneira que seja aceita voluntariamente. Há coerção na exigência de posturas, e pela manipulação dos corpos se controla a mente ou vice e versa, e essa manipulação nem sempre é percebida. Sufocando a iniciativa e a individualidade, moldam-se as condutas, disciplinam-se os comportamentos e projeta-se aquilo que se deve pensar.
            A análise de Foucalt apresenta como as instituições mantêm um sistema, de maneira que seja aceito pela maioria das pessoas, e quase sempre, sem que haja questionamentos. Revertendo essa disciplina para o meio social, ela existe por meios de caminhos invisíveis e ganha aparência de naturalidade.
            A partir disso, entende-se que a disciplina nas escolas visam suplantar a infância convencional, em benefício do sistema capitalista, e ao invés da criança ter o direito de brincar, se divertir e desenvolver autonomia conforme suas necessidades, a ela são impostas atividades nas quais a única necessidade implícita é a do sistema, que visa sua permanência e revitalização, e faz das instituições de ensino, atualmente, suas ferramentas de controle.

A INTERFERÊNCIA DA ESCOLA NA INFÂNCIA


Partindo do pensamento de Vygotsky (1997, p.56), o aprendizado possibilita o despertar de processos internos do individuo conjugados à sua relação com o ambiente sócio-cultural. Educação significa colocar o ser em contato com os sentidos que circulam sua cultura, e ao assimilá-los para sua sobrevivência, significa que não estará assimilando todas as informações com uma atitude passiva, ao contrário, é necessária a uma boa aprendizagem, uma atividade que seja consciente, participativa, e transformadora da realidade, interna e externa, do indivíduo; componente fundamental para o confronto de informações culturais, que possibilita o contínuo processo do desenvolvimento e da constituição do psiquismo.
Pode-se supor então, que a educação voltada para o mercado de trabalho é equivocada porque não atende aos anseios da criança, ignora o conceito de zona de desenvolvimento proximal apresentado pelo autor, que é justamente, a distância entre o nível de aprendizado já alcançado e aquele que pode ser construído com a ajuda de outrem, denominados respectivamente de nível de desenvolvimento real, e nível de desenvolvimento potencial. A escola que intervém, impondo as necessidades do sistema capitalista, deturpa a zona de desenvolvimento proximal, e conseqüentemente modifica o conceito cultural de infância, já que o indivíduo se constrói histórico-socialmente. 
            Ora, a criança não se interessa pelos conteúdos propostos, porque, naquele momento, além de não entender os motivos pelos quais os mesmos lhe estão sendo apresentados, ainda podem não estar preparados para assimilá-los. E mesmo quando assimilam tais conteúdos, é de maneira passiva, o que torna o aprendizado, nesse caso, questionável.
O processo de ensino aprendizagem baseado no sistema tradicional, ainda muito aplicado, faz uso de uma disciplina conservadora, à medida que condiciona a criança ao modelo do bom aluno, ou seja, aquele que assimila os conteúdos sem questioná-los, e o mesmo que, dentro da tendência capitalista, seria o adulto a atender melhor os anseios do mercado, por teoricamente, ser formado para produzir mais, e mais rápido. Porém, as instituições escolares não tradicionais e que tem como fundamento a formação crítica e construtivista, também se submetem, e aos seus alunos, tanto individualmente, quanto socialmente, ao processo que demanda adultos produtivos. Isso ocorre devido ao fato de ser o sistema determinante na vida do indivíduo.
Ao fazer a análise desses aspectos, nota-se que qualquer formação escolar, seja ela disciplinadora ou autonomista, ainda exerce poder coercitivo que provém da formatação social. As crianças, desde o ensino fundamental são disciplinadas e educadas com conteúdos dogmáticos e não para desenvolver conhecimento. A maioria das escolas tem projetos direcionados para o ensino tecnicista e não para o desenvolvimento intelectual do indivíduo, o que gera a alienação em massa, muito conveniente à manutenção da produção econômica do sistema atual.
            Portanto, a intenção não revela o verdadeiro propósito da educação existente dentro desse sistema e a conclusão a que se chega é que somente a modificação do mesmo, e mais além, sua revolução, é que pode resultar num sistema educacional mais coerente as demandas do ser e conseqüentemente a uma sociedade mais justa.
Seguindo os conceitos de Marx (2008, p.45) é possível vislumbrar a educação como instrumento revolucionário, quando esta deixar de ser ferramenta de legitimação do capitalismo, como atualmente o é, ou seja, ao invés do ensino alienante, não só a introdução de uma formação intelectual consciente como uma visão diferente a cerca da questão do trabalho é que originam a elaboração da sociedade igualitária. Há a necessidade de implantar um projeto político-pedagógico que possibilite aos alunos perceberem os problemas inerentes ao sistema, e a desmascararem a liberdade a que são induzidos, e que na realidade os aprisionam.
  

2 comentários:

  1. Caso conseguisse filmar minhas aulas, tenho certeza que me confrontaria com resquícios da personalidade de meus professores da infância e adolescência (os quais não tenho boa recordação). Realmente seguimos um modelo de ensino arcaico e, consequentemente, que não prepara as crianças para exercer a criatividade e uma vida em sociedade mais saudável. Mas acredito, que pouco a pouco, aperfeiçoarei minha prática visando um futuro mais pleno para as crianças que cruzarem meu caminho.

    Excelente artigo!

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  2. Oi! Obrigada pela visitinha ao meu blog! Gostei do seu texto sobre o pé de caximbo! Abço Dressa

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