Por Cris Akemi
Aprender a aceitar, ensinar a reclamar e conhecer o não conhecer
Pensando na escola sem sala de aula proposta no livro, alguns poréns se destacam, e angústias dos corpos docente e discente vislumbram ser sanadas, angústias essas que não tiveram vazão até hoje no modelo tradicional de ensino.
Um dos aspectos mais importantes a ser comentado é o de que há que se presumir a formação de um ser humano completo e não a formação fragmentada almejada no processo educativo atual, no qual o indivíduo é olhado somente pelo âmbito racional, fato onde reside quase totalmente a falha desse modelo.
Enquanto a razão é super valorizada pela escola, tanto a emoção, quanto os ímpetos corporais, e a dimensão espiritual, são negligenciados, além de que, totalmente banalizados. Todavia, essa não é uma filosofia exclusiva da instituição escolar, pois não está dissociada da sociedade capitalista, que tem raízes profundas no positivismo (teoria do conhecimento fragmentado, com base sólida somente nos apontamentos científicos).
Nesse sistema é perfeitamente compreensível que o indivíduo tenha seu conhecimento tecnicista que vai atender ao modo de produção em série, aliás, isso é necessário para que os poderes estabelecidos continuem vigentes, em detrimento ao direito de liberdade do sujeito.
Nesse sistema é perfeitamente compreensível que o indivíduo tenha seu conhecimento tecnicista que vai atender ao modo de produção em série, aliás, isso é necessário para que os poderes estabelecidos continuem vigentes, em detrimento ao direito de liberdade do sujeito.
E liberdade é justamente o ponto determinante da escola sem sala de aula, não só como premissa, mas como objetivo final na formação, pois é livre aquele que articula bem mente/corpo, razão/emoção, de forma intensa e consciente, e que consegue estabelecer relações sociais sadias, que vão lhe proporcionar felicidade. E as relações da sociedade capitalista, refletidas no ambiente escolar atual não proporcionam nada disso, pelo contrário, estimulam a competitividade vã desde os primeiros anos, motivam a promoção individual e deturpam o conceito de coletivismo utilizando agrupamentos, que nada mais são que uma seleção natural induzida.
E os resultados dessa triste realidade são gerações inteiras que se contentam em reclamar do governo, considerando que não tem responsabilidade política alguma, tamanha sua ignorância sobre a própria vida e condição humana, porque ao Estado não interessa que ele tenha consciência do que é agora, mas sim se vai se tornar um indivíduo produtivo, ao que ele é, não é atribuído valor algum, e ao invés de lhe ser reservado o direito de aprender a aprender, ensinar a ensinar e conhecer o conhecer, unicamente aprendem a aceitar, ensinam a reclamar e conhecem o não conhecer.
E os resultados dessa triste realidade são gerações inteiras que se contentam em reclamar do governo, considerando que não tem responsabilidade política alguma, tamanha sua ignorância sobre a própria vida e condição humana, porque ao Estado não interessa que ele tenha consciência do que é agora, mas sim se vai se tornar um indivíduo produtivo, ao que ele é, não é atribuído valor algum, e ao invés de lhe ser reservado o direito de aprender a aprender, ensinar a ensinar e conhecer o conhecer, unicamente aprendem a aceitar, ensinam a reclamar e conhecem o não conhecer.
Tal situação, não só cria, jovens parasitas e alienados, como também marginais, e esse é o quadro a ser revertido e que só pode esperar solução num novo sistema de ensino, pois há tempos vem tentando se regenerar e não consegue, mas também não dá se curva às novas propostas.
O que se ouve muito, pelo senso comum, é que os jovens de hoje não tem jeito, pois são mal educados e não sabem respeitar os mais velhos, mas no fundo o que se espera não é respeito, e sim submissão. Afora o discurso bem articulado dos docentes ativistas, não se vê efetivamente nenhuma proposta que pretende ao invés de obter respeito, emaná-lo aos jovens como o faz a Lumiar.
Os ativistas tem medo de desenvolver a autonomia dos jovens porque nem ao menos se apropriaram do conteúdo que estão lecionando e por isso evitam questionamentos, o que denota o quanto não tem amor ao seu ofício. Os pais por sua vez também não o querem, pois tem medo que em se abrindo o canal para seus anseios, o controle seja vulgarizado, e dadas as mudanças de comportamento sociais constantes não sabem lidar com isso.
Há uma falsa impressão de que o controle deve estar nas mãos dos pais e professores e essa é uma concepção retrógrada, baseada numa estrutura de cunho religioso, educação na qual não havia diálogo entre o suposto detentor do saber: o professor, e o aluno, segundo a etimologia aquele que não tem a luz.
E muito embora, em discurso, se pregue que a nova educação não se apóia nessas estruturas, e é construtivista, na prática as disciplinas ainda são igualmente divididas, os prédios tem a mesma separação de salas por séries, as avaliações os mesmos padrões e assim por diante, sendo que o que mais requer mudanças permanece intocável pois esse infundado da perda do controle existe por não considerarmos a criança e o jovem como aptos a atuar na sociedade e estabelecer juízo moral, o que é um equívoco.
Eles não só atuam fortemente como muitas vezes seu juízo moral é mais puro porque é desprovido de preconceitos sociais e interesses político sociais, por exemplo.
Todos os projetos apresentados no livro tem essa natureza de respeitar a criança como cidadã, valorizando sua condição ao invés de tentar transpô-la o que é severamente positivo na construção de um futuro melhor.
Não obstante, há também um aspecto facilitador na aplicação desse conceito de liberdade que é entender que o processo de ensino-aprendizagem não se dá unicamente na escola, pelo contrário, toda experiência é construída e reconstruída a partir da bagagem que o indivíduo traz consigo, e essa relação com o meio é importantíssima para que se estabeleça o desenvolvimento.
A criança tem um processo específico de expressão, ao docente cabe compreender profundamente como ele se dá. Ao contrário do que se pode imaginar não é justo e nem correto estabelecer padrões de comportamento e de desenvolvimento porque existem especificidades que vão muito além deles, muito embora possam se apresentar de formas parecidas. Ou seja, as reações se mostram padronizadas, mas suas motivações são tão variadas, quanto seus próprios rostos.
O mais importante é ver que em todos os momentos o cognitivo é afetado pelo emocional de forma intrínseca e o professor não deve tentar separar essas duas manifestações porque o aluno demonstra a necessidade de ser aceito e olhado pelas vias sensoriais para que seu pensamento lógico seja acionado.
Concluindo, muito além das propostas serem boas, o mais fascinante é provarem ser possíveis, alimentando as esperanças de que o mundo ainda pode sorrir para nossas crianças como elas sorriem para ele.
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